Feminicídio aconteceu com requintes de crueldade, disse delegada
Antes de ser morta de forma brutal, na madrugada de quarta-feira (22), Grazielly Karine Soares Alves de Lima, de 28 anos, tinha saído com Edmilson Veríssimo dos Reis, de 33 anos, conhecido pelos apelidos de “Aquidauana e Xitu”, para jantar em um restaurante de Corumbá. Foi o que informou a delegada da Mulher, Tatiana Zyngier e Silva, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (23).
Ainda segundo a delegada, o casal estava possivelmente reatando o relacionamento após três meses de separação. O autor, Edmilson, mesmo assim, acredita, vinha premeditando o crime. Tudo leva a crer, que o motivo seria por ciúmes depois que ele recebeu uma suposta ligação, que está sendo investigada.
“Na noite do crime eles tinham ido num restaurante jantar, inclusive saíram por volta das 23h e depois voltaram para a residência. A gente acredita na verdade, com bastante veemência, que ele tinha muito ciúmes dela e chegou a informação de que uma mulher tinha entrado em contato com o Edmilson, para falar que a Grazielly estaria traindo-o. Já sabendo disso, na noite do crime, mesmo assim, foram jantar, não sabemos como foi esse tempo deles, mas, informações apontam que ambos estavam normais durante o jantar, porém, acredito que ele estava premeditando o que faria, quando então, chegou na casa, que era dele, e cometeu o crime”, falou a delegada frisando que foram pelo menos 25 minutos de tortura até a morte de Grazielly.
Tatiana Zyngier, deixou claro que essa informação da ligação, mencionando uma suposta traição ainda está sob investigação, pois a Polícia não teve acesso ao celular de Edmilson.
“Sabemos que ele sempre teve ciúmes não só dela, mas como no relacionamento anterior dele, onde já tinha cometido fatos graves contra a ex. De posse dessa informação de suposta traição por parte da vítima, não estou dizendo que ela tenha feito alguma coisa, não sabemos se houve essa mensagem ou não, ou se era da cabeça do próprio autor, para justificar o ciúme que ele tinha da vítima. Não conseguimos acessar o celular dele, mas vamos investigar. Foi o que uma das testemunhas nos passou, que ele estaria desconfiando e uma mulher teria contado para ele da traição. Se isso era verdade ou não, só a investigação para confirmar”, reforçou a delegada.
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Vídeo mostra Edmilson e Grazielly chegando na casa dele na noite do crime
De acordo com titular da DAM, Grazielly havia registrado boletim de ocorrência contra Edmilson, no dia 08 de março, por violência doméstica e pediu medida protetiva. “Foi feito o registro da ocorrência em março, inclusive esse inquérito foi instaurado e foi relatado em maio, já estava no poder Judiciário, mas ela, aqui, na Delegacia, não retirou a medida protetiva. Porém, não sabemos se ela chegou a retirar do Judiciário, mas a gente tem informação que ela voltou com ele. No final do inquérito entramos em contato com ela e nos informou que não tinha feito exame de corpo de delito, que não tinha mais a imagens das lesões sofridas no celular, então, na verdade, leva a crer que ela não tinha mais interesse no procedimento, pois, provavelmente tinha reatado com ele”, acredita a delegada.
Após a morte até o autor ser encontrado
Na casa em que Grazielly foi morta, as coisas estavam reviradas, com garrafa quebrada, celular quebrado. O local estava cheio de sangue e a vítima foi encontrada morta num sofá. Até o cabelo dela foi cortado em várias partes.
“O feminicídio aconteceu com requintes de crueldade, ela foi torturada, esfaqueada, golpeada com socos, mordidas, sofreu muito”, relatou a delegada responsável pelo caso, dizendo que o autor, depois de matar Grazielly, entrou em contato com dois amigos. “Ele se desesperou e ligou para esses dois amigos, que foram até o local. Ambos foram ouvidos pela Polícia, dizendo que ele teria saído de moto da casa. Essas testemunhas foram ouvidas aqui na Delegacia da Mulher, tinham dado uma versão no local e outra aqui, até então, eles eram suspeitos de terem favorecido a fuga dele, mas depois se verificou que realmente, a princípio, só foram acionados pelo próprio autor, conversaram rapidamente e Edmilson saiu da casa tomando rumo incerto”, completou.
Esconderijo descoberto e tiro na cabeça
Grazielly foi cruelmente assassinada por Edmilson
Com o apoio das equipes da Delegacia de Ladário e da 1ª Delegacia de Polícia Civil, de Corumbá, o paradeiro de Edmilson foi descoberto após informações de que uma pessoa que sempre o ajudou, possivelmente poderia estar escondendo-o na residência.
“Nos chegou a informação de que uma pessoa estaria acobertando ele, pois era alguém que sempre fazia isso, quando ele se metia em problemas. Então, as equipes foram até essa casa, onde já tinha uma advogada na companhia dessa pessoa. Neste momento, as equipes olharam pelo portão e viram a moto de Edmilson. Essas pessoas ao serem questionadas, resolveram permitir a entrada dos policiais, que viram mais duas pessoas nos fundos da casa. Ao irem de encontro, ouviram um disparo de arma de fogo, confirmando, então, que o autor havia disparado um tiro contra a própria cabeça depois de sair do quarto em que estava. Ele foi encontrado já caído no chão do corredor da casa, sendo prestado o socorro necessário”, relatou a delegada.
A arma usada por Edmilson, conforme testemunhas, é dele mesmo, mas a Polícia investigará para confirmar. Já em relação as pessoas na casa, todas foram detidas, menos a advogada.
“Eles foram detidos por favorecimento pessoal. Não participaram do crime, mas prestaram auxílio para o autor do crime para que ele não seja punido, responsabilizado. É um crime de menor potencial ofensivo, então a gente ouviu, eles assinaram compromisso de comparecerem a audiência quando necessário e os liberamos”, explicou Tatiana.
No local do crime, familiares da vítima confirmaram que, de fato, o relacionamento entre Grazielly e Edmilson era bem conturbado. “Eles não foram intimados ainda, pois não é momento adequado. Vamos aguardar e eles serão chamados. Foi algo chocante, cruel, o que aconteceu. Mas eles serão ouvidos também”, disse.
Durante a coletiva de imprensa, a delegada Tatiana reforçou a importância de denunciar os casos de violência contra a mulher. É o primeiro passo para se evitar algo pior, como o que aconteceu com Grazielly.
Edmilson Veríssimo dos Reis fugiu após o crime e atirou contra a própria cabeça quando Polícia descobriu onde estava
“A gente sempre orienta que, se existe violência, relacionamento abusivo, que as vítimas tenham força para manter a decisão de seguir com o procedimento e não retornar com o relacionamento, não sabemos até que ponto a violência pode evoluir, como nesse caso da Grazielly, onde o autor demostrava que ele era uma pessoa suscetível a evoluir, pois já tinha cometido crime grave. Mas, não podemos julgar a vítima, não sabemos quais a dependências emocionais que existiam ali, só ela poderia falar, mas infelizmente, não está aqui para dizer. Se existe violência não permaneça na relação, não sabemos o que pode acontecer”, orientou.
Estado clínico de Edmilson
A delegada responsável pelo caso informou que Edmilson continua no Centro de Tratamento Intensivo da Santa Casa de Corumbá (CTI).
“Ele se encontra em estado gravíssimo e, conforme as informações, com possível morte cerebral. As próximas 24h serão decisivas, segundo a equipe médica”, concluiu.
Em nota, a Santa Casa de Corumbá informou que, nesta quinta-feira (23), Edmilson permanece sem sedação, em coma, respirando com suporte de aparelho de ventilação mecânica e com necessidade de medicação para manter pressão arterial minimamente adequada. “Informamos ainda que, o paciente apresenta sinais iminentes de morte encefálica, visto não apresentar reflexos vitais para manutenção da vida, mesmo sem a administração de sedativos”, relatou a direção técnica do hospital.
(matéria editada para acréscimo da nota técnica da Santa Casa)
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