Riscos vão do desmatamento à contaminação com agrotóxicos
Da realidade à ficção. Petição pelo não plantio de soja no Pantanal alcançou a novela de mesmo nome na semana passada e fez parte ainda de briefing da SOS Pantanal junto ao elenco no período antes das gravações. O clamor é pela interrupção do avanço das lavouras do grão, que já ocupam 3 mil hectares da maior planície alagada do mundo.
Em 3 de junho, a Organização Não Governamental SOS Pantanal lançou o abaixo-assinado “Pantanal não é lugar de soja” e hoje, o assunto fez parte de fala do deputado estadual Paulo Duarte (PSB), que defende a proibição dessa cultura em solo pantaneiro na lei. Nessa toada, Zé Leôncio, personagem de Marcos Palmeira em “Pantanal”, cita a necessidade de interrupção desse avanço na novela.
No trecho, Zé Leôncio avalia a participação em comissão no Congresso Nacional supostamente para debater a relação entre incêndios e desmatamento. No meio da conversa, dispara que “o mundo todo está pedindo ajuda e a gente faz o que? A cada ano, desmatando mais e mais, o fogo chegando e desmatando pra quê? Pra milho, soja, boi”.
Conforme o diretor de gestão da SOS Pantanal, Leonardo Pereira Gomes, não houve articulação com o roteiro da novela para essa fala, mas antes do início das gravações, a entidade auxiliou o elenco em questões técnicas relativas ao Pantanal, para conhecimento do local e ambientação dos personagens. O avanço da soja foi falado nos briefings, assim como as questões do fogo e da seca, cada vez mais presente.
“São vários riscos associados à plantação de soja. O primeiro deles é o desmatamento, que implica na perda da fauna e de toda a biodiversidade, além de assoreamento”, afirma o diretor de gestão. Ele explica que em Bonito, por exemplo, a falta desse cuidado ampliou de 9 mil para atuais 60 mil hectares o tamanho da área para soja no município em poucos anos.
A entidade fez mapeamento por satélite e sobrevoo, estimando em três mil hectares a área de lavouras do grão em solo pantaneiro, concentrados nas cidades de Aquidauana, Miranda e Coxim. Entre Ladário e Corumbá, nada foi identificado até o momento.
E a pecuária? – Para o diretor, historicamente, a pecuária se adaptou ao Pantanal e isso já ocorre há pelo menos 200 anos. “As boas práticas de manejo, uso das pastagens nativas e ainda a rotação de pastagens reduzem o impacto no ecossistema, inclusive, na emissão de carbono”, defende.
Leonardo reforça ainda que “os pecuaristas aprenderam a lidar com o Pantanal”, até mesmo com implantação de pecuária orgânica e “historicamente, caminham em alinhamento com a conservação”.