Projeto de português apoia migrantes e promove inclusão em Corumbá

Leonardo Cabral em 27 de Novembro de 2025

Foto enviada ao Diário Corumbaense

A decisão de mudar de país envolve um processo profundo, onde a identidade cultural pode ser desafiada, fortalecida ou transformada. Acaba sendo uma mudança radical na vida de quem se arrisca a ir em busca de novas oportunidades, visando uma só situação: o bem-estar, seja na vida pessoal ou profissional.

Algumas mudanças de vida vão além, elas se tornam necessárias, para não apenas a melhor qualidade de vida, mas sim, por algo que afeta sua existência em sua terra natal. Pensando nessas pessoas, a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), através do programa “UEMS Acolhe“, oferece cursos de português para estrangeiros de forma gratuita.

No curso, os ensinamentos visam auxiliar na inclusão social, educacional e profissional de migrantes no estado. O programa conta com aulas em diversos níveis e polos de atendimento, como em Corumbá, que encerrou na noite de quarta-feira (26), na sede do Sebrae, o segundo semestre do curso. No primeiro semestre, a conclusão foi do módulo básico.

Nesta etapa, a turma estudou o módulo intermediário, que explorou a oralidade. Entre os migrantes estavam pessoas vindas do Peru, Chile, Filipinas, Venezuela, Colômbia e boa parte, da Bolívia.

Em entrevista ao Diário Corumbaense, Mercedes Isabel Cornejo, coordenadora do curso UEMES Acolhe, em Corumbá, explicou a importância do programa desenvolvido com os migrantes que fixaram residência no município pantaneiro.

“A UEMS não tem um polo aqui em Corumbá físico, então nós somos todos professores voluntários que estamos aqui, ensinando para esse público o português básico de acolhimento. A gente ensina para eles poderem estar aqui, continuar a sua vida e se relacionar melhor com todos — com a família, com a vizinhança e com tudo aquilo que é de necessidade para eles”, explicou. São sete professores voluntários da Rede Municipal de Ensino. 

“Eles se sentem mais acolhidos, porque conseguem se comunicar melhor com as pessoas. Não fica só no ‘bom dia’, no ‘boa tarde’. Eles aprendem a comprar o seu alimento, a sua roupa, a colocar as crianças na escola. E isso também é muito bom, porque tem crianças que nascem aqui. Então, isso é para eles o essencial, o básico. E muitos dizem: ‘Nossa, isso me ajudou muito para eu poder viver melhor aqui no país que eu escolhi’”, completou Mercedes Cornejo.

Desafios de uma vida fora do País

Uma das alunas do curso é Claudia Cecília Arango Zuleta, que veio da cidade de Medellín, na Colômbia. Ela contou à reportagem que veio para Corumbá, após participar de um concurso de bolsas que estava oferecendo no Brasil para estudantes estrangeiros. Se inscreveu em cinco universidades e foi aceita na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Campus Pantanal, em março deste ano. Cláudia afirmou que, se não tivesse o curso, talvez não levasse os estudos adiante.

“Cheguei sem falar uma palavra em português. Jamais pensei em morar no Brasil, pensava em viajar e conhecer apenas. Então, quando cheguei, foi um choque muito grande, porque eu não entendia. As pessoas falavam rápido. Na universidade, todo mundo falava português. Os professores me ajudavam, mas precisava entender. Então, quando eu conheci este curso, foi fundamental. Hoje, devo muito a este curso, estou falando, compreendendo e me desenvolvendo facilmente na faculdade, já leio e escrevo meus textos e livros”, disse a colombiana.

Nascida em Potosi, na Bolívia, Zenobia Flores Aramayo, como boa parte dos bolivianos, trabalha no comércio. Ela é proprietária de uma conveniência na cidade e há 20 anos fixou residência em Corumbá. A estrangeira revelou que, mesmo com tanto tempo morando na cidade, ainda sim, existem algumas dúvidas para se comunicar e quis participar para se aprofundar ainda mais.

“O que mais peco é na pronúncia e nas conversas durante o dia a dia, com outras pessoas. Sempre acabo falando errado. Então, o curso me ajudou e muito, para poder me comunicar melhor com os clientes. Vim em busca de uma vida melhor e aqui fixei residência e tive meus filhos”, disse.

O curso

UEMS Acolhe” tem como objetivo principal promover a inserção linguística, humanitária e educacional de migrantes internacionais através do ensino da língua portuguesa, atingindo migrantes, refugiados e apátridas, independentemente de sua situação migratória ou nacionalidade.

O curso oferece turmas para os níveis Básico, Intermediário e Avançado, ministradas por professores voluntários. Cada módulo tem duração de 12 semanas, com 60 horas/aula presenciais. As inscrições são gratuitas. Para o módulo encerrado em Corumbá, os participantes apresentaram um prato típico de cada país e explicaram as receitas em português. Entre as delícias estavam: majadito, empanadas colombianas e bolivianas; arepa, locro e as bebidas, como mocochinchi, entre outros.

Leonardo Cabral/Diário Corumbaense

Encerramento do segundo módulo do curso teve apresentação de pratos típicos dos países de cada participante

“No nosso primeiro curso, conseguimos certificar 38 alunos, nessa segunda turma foram 36 participantes. Eles se sentem mais preparados tanto para a vida cotidiana quanto para o trabalho”, finalizou a coordenadora do curso, que deve ter continuidade em 2026.