Leonardo Cabral em 06 de Agosto de 2025
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Uma das principais manifestações religiosas da região de fronteira, a tradicional festa em homenagem à Virgem de Copacabana, padroeira da Bolívia – País que neste 06 de agosto, celebra os 200 anos de sua independência -, foi realizada na tarde desta quarta-feira e tomou conta das ruas centrais de Corumbá. O evento reuniu devotos, fiéis e curiosos, que acompanharam os cortejos com danças e músicas típicas que animaram o público ao longo do percurso.
As celebrações começaram às 14h com uma missa bilíngue — em português e espanhol — realizada na Catedral de Nossa Senhora da Candelária, na Travessa Helô Urt, em frente à Praça da República. A cerimônia foi conduzida pelos padres Júlio César Silva Mônaco e Jacinto.
Realizada há 23 anos em Corumbá, a festa já se tornou tradição na cidade e atrai não apenas os corumbaenses, mas também bolivianos que vivem na região ou cruzam a fronteira para participar das celebrações, reforçando os laços culturais entre os dois países.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Os “pasantes”, Javier e Irene, responsáveis pelas festividades deste ano, durante celebração da missa
O padre Júlio César destacou a importância da celebração para a comunidade católica e para a integração cultural entre Brasil e Bolívia. “A Virgem Maria, mãe de Jesus, é única. Por isso o povo a reconhece sob diversos títulos: no Brasil, Nossa Senhora Aparecida; na Bolívia, Nossa Senhora de Cotoca, Urkupiña e Copacabana. Valorizamos essa integração cultural com apreço especial pela fé expressa em danças e cânticos”, ressaltou o religioso.
Tradição dos “pasantes”
Neste ano, os responsáveis pela festividade — chamados de “pasantes” — foram Javier Villegas Arce e Irene Viana Maerinez. Segundo eles, a celebração já acontece em Corumbá há 23 anos, desde que a imagem da Virgem de Copacabana foi trazida da Bolívia pelo primeiro pasante.
“Nossa ‘mamita’ é tanto brasileira quanto boliviana. A imagem veio de Copacabana, cidade boliviana às margens do lago Titicaca, na Cordilheira dos Andes, e permanece aqui em Corumbá. É uma devoção que não tem limites nem fronteiras”, afirmou Javier ao Diário Corumbaense.
Sua esposa, Irene, reforçou o valor simbólico da festa para a integração entre os povos fronteiriços. “É uma fé inexplicável. Levar adiante essa tradição é muito gratificante. A festa de integração entre os dois lados da fronteira é uma das nossas maiores riquezas”, disse.
Cortejo e festa binacional
A Festa da Virgem de Copacabana é considerada um símbolo de resistência cultural e religiosa da comunidade migrante na fronteira. Por mais de duas décadas, o evento foi promovido de forma autônoma por devotos e artistas populares.
Atualmente, há um movimento para que a festividade seja oficialmente reconhecida pelo município de Corumbá, com inclusão no calendário cultural da cidade. A proposta busca garantir apoio logístico e institucional, além de valorizar a cultura popular e incentivar o turismo religioso.
A celebração atrai visitantes de diferentes lugares. É o caso da cearense Sônia Lima, de Fortaleza, que visita Corumbá pela quinta vez e, pela primeira vez, participou da festa.
“Tenho uma irmã que mora aqui, mas nunca tinha visto essa celebração. Fiquei encantada com tudo: a missa, o cortejo, as vestimentas folclóricas. É realmente uma alegria vivenciar de perto uma tradição tão bonita”, falou enquanto registrava cada momento com o celular.
Após a missa, teve início o cortejo pelas ruas Antônio Maria Coelho e Dom Aquino, seguindo até as imediações do Cemitério Santa Cruz. De lá, os devotos seguiram para a fronteira, onde as comemorações continuaram em um centro social da Bolívia.
Como manda a tradição, a responsabilidade pela organização da próxima edição – em 2026 – foi passada a um novo casal, que ficará encarregado de cuidar da imagem da santa e preparar as futuras cerimônias religiosas.
Nossa Senhora de Copacabana
A Basílica de Nossa Senhora está situada na cidade de Copacabana, na Bolívia. É onde se encontra a imagem da santa, padroeira do País. A igreja foi construída no ano de 1550 em estilo renascentista e foi reconstruída entre 1610 e 1651. A reconstrução foi iniciada pelo arquiteto Francisco Jiménez de Sigüenza.
Para complementar a capela fechada, foi construída também uma capela aberta para cerimônias ao ar livre, como já era costume para os indígenas. A igreja, continuou tendo ampliações, pois, com o passar dos anos, foi aumentando o número de pessoas que a frequentavam, tanto católicos bolivianos e peruanos quanto visitantes do mundo todo.
A imagem da santa foi talhada por Francisco Tito Yupanqui, que era de linhagem real inca. É morena como o povo da região e é enfeitada com várias joias preciosas, ouro e prata. O seu manto é trocado de tempos em tempos, assim como suas joias.
