Leonardo Cabral
Representantes de municípios bolivianos localizados ao longo do corredor bioceânico — rodovia que interliga Brasil e Bolívia — decidiram, em assembleia realizada no começo de dezembro, reivindicar o restabelecimento do serviço de trem de passageiros no trecho entre Santa Cruz de la Sierra e Puerto Quijarro.
O transporte teve sua operação suspensa em 2020, durante a pandemia da Covid-19, e, desde então, não voltou a circular com passageiros.
A mobilização, que reúne grupos cívicos e autoridades municipais, busca pressionar o governo boliviano e a Ferroviária Oriental, empresa responsável pela linha férrea, a retomar o serviço considerado essencial para a economia regional, o turismo e a integração com o Brasil, especialmente na fronteira com Corumbá.
A presidente cívica do Bloque Chiquitano, Maria Rene Villarroel Jerez, participou da assembleia realizada em San José, a cerca de 300 km de Corumbá. Em entrevista ao Diário Corumbaense, ela afirmou que foi estipulado um prazo de 20 dias para que o governo boliviano e a empresa ferroviária se manifestem sobre a demanda.
“Não estamos pedindo algo novo, mas sim o retorno de um serviço que existia e foi suspenso. Queremos respostas não só da empresa, mas também do governo, do Vice-Ministério de Obras Públicas, do Vice-Ministério de Transporte e da ATT, responsável pela proteção ao consumidor. O trem de passageiros funciona de Santa Cruz a Yacuiba; por que aqui não?”, questionou.
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Para Maria Rene, a retomada do trem representa ganhos econômicos e turísticos, além de garantir maior segurança aos moradores que dependem do deslocamento entre os povoados da região e Santa Cruz. Ela destaca ainda que, para cargas, o transporte ferroviário é mais barato que o rodoviário.
A dirigente lembra que o trem atende todas as localidades ao longo da ferrovia — como Palmito, Matacucito, El Carmen Rivero Torres, Poso del Tigre, Santa Ana e San José — algo que os ônibus não fazem.
“O retorno do trem é sinônimo de vida para os povoados ao longo da linha. Os ônibus não entram em todas as comunidades. O trem sim. Isso movimenta a economia e fortalece o turismo. Além disso, nossas estradas estão deterioradas, e o trem traz mais segurança”, explicou.
Foto enviada ao Diário Corumbaense
Assembleia deu prazo de 20 dias para resposta sobre o retorno do trem de passageiros entre Santa Cruz de la Sierra e Puerto Quijarro
A assembleia reuniu representantes de Pailón, San José, Roboré, El Carmen, Puerto Suárez e Puerto Quijarro. Caso não haja resposta dentro do prazo, os grupos afirmam que podem bloquear trechos ferroviários e até rodovias.
“Não queremos chegar a essa medida, porque o país passa por problemas econômicos, mas precisamos ser atendidos. Até mesmo a comissão brasileira que defende o retorno do trem entre Corumbá e Campo Grande está apoiando nossa reivindicação”, disse Maria Rene.
O Diário Corumbaense entrou em contato com a empresa Ferroviária Oriental S.A., porém não obteve resposta sobre a reivindicação.
