Leonardo Cabral em 28 de Novembro de 2025
Leonardo Cabral/Diário Corumbaense
Após anos de acúmulo, parceria entre a Santa Casa de Corumbá e a Secretaria Municipal de Saúde conseguiu zerar a fila de pacientes à espera de biópsias de próstata.
Atualmente, cerca de 70 homens realizam tratamento para câncer de próstata no município. A biópsia é determinante para confirmar suspeitas, identificar a gravidade da doença e definir a conduta terapêutica. A demora na realização do exame pode retardar o início do tratamento oncológico, reduzindo as chances de cura em casos em que o tempo é fator crucial.
Para a farmacêutica oncológica e supervisora do setor de Oncologia da Santa Casa, Fernanda Leite Grim Oliveira, o avanço representa um passo essencial para garantir qualidade de vida aos pacientes.
“Na oncologia, agilizar o início do tratamento é fundamental. E ter essa evolução no setor, especialmente no mês de novembro, quando reforçamos a importância da saúde do homem, é uma vitória”, afirmou.
Leonardo Cabral/Diário Corumbaense
Supervisora da Oncologia destacou a importância da fila zerada para o tratamento da doença
Fernanda contou que a fila de espera se acumulava havia anos. “Os pacientes estavam aguardando seis, sete, até oito anos pela biópsia. E o câncer não espera. Muitas vezes, o que era um tumor inicial já não era mais quando conseguíamos atender. Diagnóstico precoce significa maior chance de cura e muito mais qualidade de vida”, completou.
A parceria
De acordo com Fernanda, o resultado só foi possível graças ao convênio firmado com a Secretaria Municipal de Saúde, que garantiu recursos financeiros para a realização de um mutirão com dois médicos urologistas.
A demanda reprimida era de 90 pacientes. Após o rastreamento, verificou-se que alguns já haviam falecido e outros resistiram à realização do exame — situação comum entre homens, segundo a farmacêutica. Ao final, 60 estavam aptos e realizaram a biópsia.
“Conseguimos zerar essa fila. Agora, o fluxo segue normalmente: consultou, precisou de biópsia, entra no trâmite regular — risco cirúrgico, agendamento e procedimento”, disse. Ela destacou que a falta de recursos impedia a Santa Casa de atender toda a demanda, o que fazia a fila crescer a cada ano. Com o mutirão, até mesmo as biópsias previstas para dezembro foram antecipadas para novembro.
Prevenção ainda é desafio
O câncer de próstata é o segundo tipo mais frequente entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Embora muitas vezes de crescimento lento, pode avançar para outros órgãos, sobretudo os ossos. O diagnóstico começa com o toque retal e o exame de PSA, podendo evoluir para imagem e biópsia.
A resistência à realização dos exames ainda é um obstáculo, destaca a supervisora da Oncologia. “O exame ainda é tabu. Muitos homens resistem por questões relacionadas à masculinidade. Mas é essencial. É saúde, é profissional. Tudo que se detecta no início tem mais chances de cura”, reforçou.
A campanha Novembro Azul reforça essa conscientização anualmente, buscando estimular o cuidado preventivo entre os homens, especialmente no que diz respeito ao câncer de próstata.
Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimam que, entre 2023 e 2025, surjam cerca de 71.730 novos casos por ano, com risco de aproximadamente 67,86 casos por 100 mil homens. A doença é a mais incidente entre homens no país (excluindo câncer de pele não melanoma) e também a segunda que mais mata. Em 2021, mais de 16 mil brasileiros perderam a vida para o câncer de próstata — média de 44 mortes por dia.
A idade é o principal fator de risco: cerca de 75% dos casos ocorrem em homens com mais de 65 anos. Histórico familiar, etnia — com maior incidência entre homens negros — e hábitos de vida, como obesidade e sedentarismo, também influenciam. Apesar disso, quando detectado precocemente, o câncer de próstata apresenta altas taxas de cura e pode ser tratado de forma eficaz, o que torna o diagnóstico precoce uma ferramenta fundamental na luta contra a doença.
