Saltenha Fest celebra integração cultural na fronteira e reúne grande público no Porto Geral

Leonardo Cabral em 10 de Novembro de 2025

Leonardo Cabral/Diário Corumbaense

O salgado que ultrapassou fronteiras e conquistou o paladar de corumbaenses e ladarenses foi o protagonista da 6ª edição do Saltenha Fest, realizada no domingo (9), no Porto Geral de Corumbá. A festa, que celebrou o Dia da Saltenha, comemorado nesta segunda-feira (10), reuniu grande público ao som da música latina e reforçou a integração cultural entre Brasil e Bolívia.

Nas barracas, o público encontrou diferentes versões da saltenha, que variavam nos ingredientes, como uvas passas, azeitonas e ovo cozido, mantendo, porém, o sabor característico que marcou sua presença definitiva na culinária pantaneira.

Vinda de Campo Grande, Roseli Martins Rubio participou do festival pelo terceiro ano consecutivo. Ela trouxe 1.100 unidades do salgado e já havia vendido mais de 700 no início do evento. Roseli conta que sua relação com a iguaria começou na Bolívia, onde viveu na década de 1990, durante a implantação do gasoduto.

“Aprendi com muito carinho com as pessoas que me acolheram. Depois, quando voltei a Corumbá, passei a produzir e comercializar. Hoje vivo em Campo Grande, mas faço questão de participar do festival, que valoriza e divulga essa culinária fronteiriça”, afirmou ao Diário Corumbaense.

Outra figura tradicional no evento é Delia Duran Ribeiro, que participa desde a primeira edição. Ela aprendeu a fazer saltenha com a mãe e mantém a venda do produto em frente à sua residência, na rua Luiz Feitosa Rodrigues. Para esta edição, produziu mais de 400 unidades. “É uma herança que minha mãe deixou. Faço com carinho e o festival ajuda muito na renda. É uma festa bonita, que dá prazer em participar”, disse.

Além da saltenha, o público também degustou empanadas fritas e bebidas típicas bolivianas, como mocochinchi e chicha.

O organizador do evento, Arturo Ardaya, destacou que a festa já faz parte do calendário cultural da cidade. “O festival simboliza a maior celebração da integração entre Brasil e Bolívia no oeste do país. Estimamos a venda de mais de oito mil saltenhas, com o Porto Geral lotado e ao som de muita música latina”, afirmou.

Ritmo latino com muita cumbia 

Com um repertório bastante animado, o evento foi embalado pela Orquestra Internacional Sombras de América, que não deixou ninguém parado.

Ao som de cumbia, salsa, merengue, a banda proporcionou uma grande festa, representando um traço forte da identidade cultural entre Corumbá e as cidades bolivianas, com os ritmos que estão cada vez mais caindo no gosto musical nas festas do lado brasileiro.

“Esse ritmo é envolvente, umas músicas que realmente não dá para ficar parado, parece que o corpo já sabe e a gente ama esses temas. Algumas pessoas do lado boliviano falam que são temas antigos. Podem até ser, mas a gente gosta e pede sempre. Não pode faltar”, disse Fabricia Amorim, que estava na companhia da família e se referia a temas musicais como: “Dos Mujeres, un Camino”, “Suavecito” e “Pasito Tun Tun”.

A origem da saltenha

A saltenha, tradicional da Bolívia, é um pastel assado semelhante ao calzone. Segundo obras do historiador Antonio Paredes Candia, sua origem remonta à chegada de Juana Manuela Gorriti, natural de Salta (Argentina), à Bolívia no início do século XX. Em situação de extrema pobreza, ela passou a vender “empanadas caldosas”.

O sucesso da receita fez com que a população passasse a chamá-la de “a saltenha”. Com o tempo, o nome deixou de identificar a cozinheira e passou a denominar o próprio salgado, que hoje possui diversas variações de recheio, mas mantém características tradicionais na massa e no preparo.