Não é só mais um: família busca justiça por idoso atropelado por adolescente em Corumbá

Ricardo Albertoni em 08 de Setembro de 2025

Arquivo pessoal

A família de César Marcos Leite Fardino, de 61 anos, cobra justiça e maior visibilidade para o caso do atropelamento ocorrido há quase dois meses, que resultou em sua morte. O comerciante faleceu no último dia 21, após permanecer 35 dias em coma, em Campo Grande.

O atropelamento ocorreu na noite de 16 de julho, na rua Ladário, região central de Corumbá, próximo a um semáforo. A família alega que menor de 14 anos participava de um racha em uma motocicleta quando atingiu César Marcos, que caiu desacordado. A vítima foi socorrida e devido a gravidade do caso foi transferida para a Santa Casa de Campo Grande, mas não resistiu após longo período internado.

Imagens de câmera de segurança, enviadas ao Diário Corumbaense pela família, mostram o momento em que César atravessava a rua e foi atingido pela motocicleta. O adolescente cai logo após a colisão, enquanto outra moto, que seguia emparelhada, continua seu trajeto sem retornar até o fim da gravação.

Reprodução

Câmera de segurança registrou momento do atropelamento

De acordo com o boletim de ocorrência ao qual a reportagem teve acesso, o condutor da moto e o pedestre atropelado foram levados para o Pronto-Socorro Municipal. O adolescente sofreu ferimentos na boca e escoriações pelo corpo, enquanto César sofreu traumatismo craniano.

Não é só mais um número

Em mensagem enviada a este Diário, a sobrinha da vítima, Lidiane Fardino, desabafou sobre o que ela descreve como sensação de abandono e o fato de o tio representar apenas mais um número nas estatísticas:

“Ele não tinha bens financeiros, só sua honra, sua família e alguns amigos. Era mais um idoso anônimo e acabou esquecido pela sociedade. O que vemos é um silêncio e a demora das ações diante de um caso tão tenebroso, causado por uma ‘criança’ pilotando uma moto.” (Apesar de a familiar se referir ao suspeito como criança, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, uma pessoa de 14 anos é considerada adolescente).

César Marcos era pai, tio e avô e, segundo a família, conhecido por levar uma vida simples e dedicada aos seus. “Lutou pela vida por 35 dias, mas infelizmente não resistiu. Queremos justiça e que essa tragédia não caia no esquecimento”, completou Lidiane.

A cobrança vai além da responsabilização do adolescente envolvido no atropelamento. Os familiares pedem também mobilização das autoridades para discutir medidas de fiscalização e prevenção de acidentes.

 

Arquivo pessoal

César, com camisa do Botafogo, em uma das reuniões familiares

“O trânsito de Corumbá está caótico. Somos uma cidade do interior, mas com índices assustadores de acidentes graves. Precisamos de mudanças urgentes”, reforçou a sobrinha da vítima.

O ato infracional (quando praticado por criança ou adolescente) está sendo investigado pela Delegacia de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso (DAIJI). A reportagem não conseguiu mais informações sobre o andamento do caso.

Agetrat

A Agência Municipal de Trânsito e Transporte divulgou que Corumbá registrou 853 sinistros de trânsito no primeiro semestre de 2024 e 864 no mesmo período de 2025.

Os dados reforçam que o cenário exige atenção. São várias as reclamações de infrações no trânsito, principalmente relacionadas à alta velocidade e a rachas. A rua Ladário, onde ocorreu o atropelamento de Marcos César, desde que recebeu nova pavimentação asfáltica,  tem se transformado em uma “pista de corrida” durante a noite, relatam moradores. 

A Agetrat informa que, nos últimos meses, a fiscalização foi ampliada em pontos estratégicos, como centro da cidade, Posto Esdras, rodoviária e bairro Maria Leite, onde, segundo o órgão, houve redução de reclamações sobre o tráfego de veículos pesados.

Entre as novas iniciativas estão a criação de um grupo de motopatrulhamento, a abertura de um novo canal de atendimento ao cidadão, além do WhatsApp já existente (67) 9 9633-9709, e o Curso de Formação de 18 novos agentes de trânsito, que irão reforçar as equipes de fiscalização. Campanhas educativas e de prevenção também devem ser intensificadas.