Estudo realizado pelo Instituto SOS Pantanal identificou a contaminação por agrotóxicos no Rio Santo Antônio, afluente do Rio Miranda em Mato Grosso do Sul, um dos principais rios da planície pantaneira.
O relatório foi apurado ao longo da safra de soja 2023/2024, iniciado em outubro de 2023 e finalizado em março de 2024. A divulgação ocorreu nesta sexta-feira (22), comemorado o Dia Mundial da Água.
Foi constatada a presença de altos níveis de nitrato e fosfato, coliformes fecais, substâncias tóxicas, além de um fungicida chamado Carbendazim, segundo o biólogo e diretor de Comunicação e Engajamento do SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa.
“O que nos chamou mais a atenção foi um fungicida chamado Carbendazim, substância proibida desde 2022 no Brasil, da qual provavelmente estão sendo usados estoques remanescentes. Além de ser cancerígena, essa substância pode causar esterilidade em seres humanos e animais, algo muito preocupante porque pode afetar não só a fauna da região como as pessoas que moram ali e dependem do Santo Antônio para sobreviver”, alertou.
O estudo também aponta falta de manejo adequado para conservação do solo e da água nas áreas destinadas à produção de grãos no entorno do rio, além do agravamento do déficit de APP (Área de Preservação Permanente) com a introdução do plantio de soja em áreas anteriormente ocupadas por pastagens que estão potencializando o assoreamento e a contaminação da água.
Em 2022, o Instituto SOS Pantanal começou a debater a importância de frear o avanço da produção agrícola na planície pantaneira, em específico da soja.
Nesse mesmo ano, foram registradas mais de 48 mil toneladas de agrotóxicos comercializados em Mato Grosso do Sul e 176 mil toneladas no estado de Mato Grosso.
Os agrotóxicos quando entram em contato com a água podem ser transportados para as águas superficiais, além de colocar em risco a biota aquática e a qualidade das fontes de captação de água para abastecimento humano e de animais domésticos.
A escolha do Rio Santo Antônio se deve ao fato de sua importância como manancial de abastecimento para a cidade de Guia Lopes da Laguna e a possibilidade de, a partir dos resultados, entender o risco de contaminação da água utilizada pela população.
Esse é um desdobramento do Projeto Águas que Falam, que rodou mais de 3.000 km pelo Pantanal, visitando diferentes comunidades tradicionais e ribeirinhas com o objetivo de ouvir sobre a qualidade da água que os cerca, além de entregar kits de monitoramento da qualidade da água para cinco comunidades.
Recomendações
Em contrapartida, a pesquisa sugere a criação de fóruns permanentes envolvendo entidades de classe ligadas à produção agropecuária para o debate sobre práticas conservacionistas de solo e água e o uso adequado de produtos químicos; o monitoramento continuado do uso de agrotóxicos na bacia do Rio Santo Antônio; e a ampliação do monitoramento de agrotóxicos que impactam indivíduos da fauna aquática do Pantanal, como peixes e ariranhas.
Durante o Seminário “Mato Grosso do Sul e Aquífero Guarani: Fonte de Água e Fonte de Vida”, realizado na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), nesta sexta, também foram abordados temas como: “Escassez e contaminação de água nos territórios indígenas e assentamentos rurais”; “o papel dos órgãos de controle e fiscalização na redução da contaminação da água por agrotóxicos”; e a “produção agroecológica como alternativa para uso de agrotóxicos”.