Luis Fernando Camacho foi detido no âmbito de processo conhecido como Golpe de Estado 1, que investiga movimento que levou à renúncia de Evo Morales em 2019
Luis Fernando Camacho, governador do departamento de Santa Cruz, o estado mais rico da Bolívia, foi preso nesta quarta-feira pela polícia nacional no âmbito do processo em que é investigado por sua participação no movimento que levou à queda do presidente Evo Morales, em novembro de 2019. Camacho é ferrenho opositor do presidente boliviano Luis Arce, que foi ministro da Economia de Morales.
“Informamos ao povo boliviano que a polícia boliviana cumpriu a ordem de prisão contra o senhor Luis Fernando Camacho”, anunciou no início da tarde, no Twitter, o ministro do Interior, Eduardo del Castillo, que é de Santa Cruz. Os aliados do governador disseram que ele foi “sequestrado” e que sua prisão violou a separação de Poderes.
De acordo com um comunicado do Ministério Público, Camacho foi detido no processo conhecido como Golpe de Estado 1, que investiga os protestos opositores, o motim policial e a pressão militar que levaram Morales a renunciar, em meio a acusações, nunca comprovadas, de que havia fraudado a eleição em que obteve o quarto mandato consecutivo. Na época, o atual governador comandava o Comitê Cívico de Santa Cruz, que reúne os empresários e integrantes da elite local. A prisão foi pedida em 31 de outubro pelo promotor Omar Alcides Mejillones, e os investigados no processo enfrentam acusações de terrorismo, sedição e conspiração.
O governador também é alvo de outra investigação, por promover protestos em Santa Cruz entre outubro e novembro deste ano contra o adiamento do censo populacional boliviano. Os protestos, que incluíram 36 dias de bloqueios de estradas, terminaram com um acordo entre a oposição e o governo que garantiu a realização do censo a tempo de que a distribuição das cadeiras no Congresso, segundo os números atualizados das populações das regiões bolivianas, seja feita antes das eleições legislativas e presidenciais de 2025.
De acordo com imprensa local, o governador desde 2021 da região mais populosa da Bolívia foi preso quando chegava em casa em Santa Cruz de la Sierra depois de uma reunião com funcionários. Ele teve o carro que dirigia interceptado por agentes da polícia nacional, que renderam sua escolta.
Posto em uma van, Camacho seria levado de avião para La Paz, mas acabou sendo transferido de helicóptero para o aeroporto de Chimoré, no departamento de Cochabamba, e de lá para a capital, onde foi detido nas instalações da Força Especial de Combate ao Crime (Felcc).
O uso do helicóptero aconteceu depois que os apoiadores do governador bloquearam as pistas dos dois aeroportos da capital de Santa Cruz, o internacional Viru Viru e o doméstico El Trompillo. Eles gritavam que não permitiriam a transferência de Camacho e exigiam sua libertação, segundo imagens do canal de televisão Unitel. EmTrompillo, forçaram uma guarda militar a abandonar suas funções de segurança.
“Neste momento, não se sabe o paradeiro do governador, pelo que responsabilizamos o governo do presidente Luis Arce pela segurança física e pela vida dele”, disse mais cedo o gabinete de Camacho em comunicado. “O governador de Santa Cruz foi sequestrado em uma operação policial totalmente irregular e levado em direção desconhecida.”
O diretor da estatal de Navegação Aérea e Aeroportos da Bolívia, Elmer Pozo, disse em entrevista coletiva que os voos domésticos e internacionais foram temporariamente suspensos em Viru Viru e El Trompillo. Em alguns bairros de Santa Cruz de la Sierra, ruas e avenidas também foram bloqueadas, em protesto contra a prisão de Camacho, confirmou a AFP. Os atuais dirigentes do Comitê Cívico do departamento se reuniram para anunciar novas medidas contra a prisão.
Camacho é um dos principais líderes de direita da Bolívia e comanda o segundo maior bloco da oposição no Parlamento, o Acreditamos, atrás do partido Comunidade Cidadã (CC), do ex-presidente Carlos Mesa. O Movimento ao Socialismo (MAS), liderado por Arce e Morales, é a principal força legislativa. No final de 2020, Camacho disputou a Presidência, mas ficou em terceiro lugar, com 14% dos votos, contra 55% de Arce e 28,8% de Mesa.
Neste ano, em junho, a ex-senadora Jeanine Áñez, aliada de Camacho que ocupou interinamente a Presidência por um ano depois da renúncia de Morales, foi condenada a 10 anos de prisão, acusada de golpe de Estado, no processo conhecido como Golpe de Estado 2. Ela cumpre pena na prisão Miraflores, em La Paz.
Áñez e o ex-presidente conservador Jorge Quiroga (2001-2002) condenaram a prisão de Camacho. “Montaram uma megaoperação policial/militar para sequestrar o governador”, disse Áñez no Twitter, enquanto Quiroga afirmou que “a polícia prendeu violentamente o governador de Santa Cruz”.