Mato grosso do Sul é o 11º estado do país autorizado para realizar o procedimento de alta complexidade
Após quase 18 meses desde a apresentação do projeto, o Hospital Cassems de Campo Grande realizou na quarta-feira (10), o primeiro transplante de medula óssea de Mato Grosso do Sul. O procedimento de alta complexidade ocorreu pela manhã e foi conduzido pela equipe médica multidisciplinar da unidade hospitalar e representa um enorme avanço para a saúde de Mato Grosso do Sul.
“Graças ao empenho da nossa equipe do hospital Cassems de Campo Grande, realizamos hoje o primeiro transplante de medula óssea de Mato Grosso do Sul. Esta é uma vitória que tem a assinatura de todos os servidores públicos do nosso estado”, comemora o presidente da Cassems, Ricardo Ayache.
O primeiro paciente a receber o transplante está em tratamento oncológico desde 2020 e já havia realizado a quimioterapia conforme explica a responsável técnica pelo transplante de medula óssea e médica hematologista no Hospital Cassems de Campo Grande, Soraia Romanini. “Esse paciente tem o diagnóstico de mieloma múltiplo, fez a quimioterapia e neste caso específico desde que recebeu o diagnóstico já tinha a indicação do transplante desde o diagnóstico”.
O procedimento
Romanini explica que o procedimento realizado na unidade hospitalar é chamado autólogo e é constituído por fases, por isso, não existe um ato cirúrgico. Na primeira fase o paciente é condicionado, ou seja, recebe medicações para aumentar o número de células hematopoiéticas que estão circulando no sangue dele.
“Essas células posteriormente são coletadas em um procedimento que nós chamamos de aférese, e é como se as células troncos fossem filtradas por um aparelho que se assemelha ao aparelho de hemodiálise, mas é um aparelho específico para coletar essas células tronco”, diz a médica hematologista.
Depois da coleta as células são congeladas e o paciente passa por uma quimioterapia muito agressiva que vai tratar efetivamente o mieloma. “O mieloma múltiplo é uma doença muito difícil de ser controlada com a quimioterapia convencional por isso precisa desse procedimento E o transplante autólogo, é esse em que o paciente tem a medula coletada e ela vai servir como uma espécie de backup”, ressalta Romanini.
Depois da coleta, o paciente passa pela quimioterapia para destruir a medula óssea existente, e teoricamente, toda a doença que motivou a indicação do procedimento. “O que vai ser efetivo nesse procedimento é a quimioterapia que o paciente faz, que é muito agressiva, e a medula óssea ela funciona como esse backup, eu retiro, congelo, guardo essa medula, faço uma quimioterapia bem agressiva e posteriormente, o paciente recebe a própria medula congelada para voltar a repovoar a medula óssea e a ter novamente uma medula óssea em funcionamento”.
A médica hematologista explica ainda que da coleta de célula tronco e a realização da quimioterapia em altas doses se o paciente não receber essa medula óssea que foi congelada ele tende a ficar num estado que a gente chama de aplasia que pode evoluir até para óbito caso não recebesse suas células.
O médico oncologista pediátrico da Cassems, Renato Yamada, também acompanhou o primeiro transplante de medula óssea realizado hoje e falou sobre a importância do procedimento para o estado. “Então, esse momento é muito importante para a gente, nesse momento a gente está infundindo a célula tronco do paciente novamente, depois do processo que a gente chama de condicionamento, e a gente chama isso de transplante autólogo. Mas é um momento muito especial para a gente pela conquista da população em geral que vai se beneficiar disso, e a gente fica muito feliz, não só como especialista”.
Próximas etapas
Depois que o paciente recebe a medula óssea, como aconteceu hoje, demora em média 14 dias para que a medula óssea transplantada volte a funcionar plenamente. A médica responsável técnica pelo transplante de medula óssea, Soraia Romanini, explica como é feita a primeira avaliação. “Depois que ele tiver três dias consecutivos de segmentados, que é um tipo de célula do sangue acima de 500, a gente diz que a ‘medula pegou’ então depois de cerca de 14 dias que eu vou ter a eficácia do transplante comprovada”.
Durante esse período o paciente fica em um processo de extrema vulnerabilidade do sistema imunológico e sob cuidados da equipe multidisciplinar. “Ele fica com leucócitos praticamente zerados e muito dependente de transfusões de concentrados de hemácias e plaquetas, e fica com uma alta possibilidade de ter anemia severa e ter quadros infecciosos muito graves. Por isso ele fica num ambiente de isolamento e ele fica num setor com cuidados intensivos para ele. O que a gente espera é que com 14 dias a medula óssea volte a funcionar e que ele fique livre de riscos e a gente volte a afirmar o sucesso do procedimento”, esclarece a médica hematologista.
Conquista para a saúde
A responsável técnica pelo transplante de medula óssea no Hospital Cassems de Campo Grande, Soraia Romanini, ressalta a importância do transplante realizado hoje. “É um momento muito importante e que nos emociona muito. É um momento crucial, um momento de extrema importância para todo o processo de transplante de medula óssea que vem aí coroar todo um trabalho já feito há alguns anos e que é importante para toda a equipe desenvolvida, desde a administração até a equipe assistencial e a gente espera aí que o paciente tenha uma boa recuperação e que tudo possa ocorrer da melhor forma possível”.
O projeto para transplante de medula óssea foi apresentado pela Caixa dos Servidores à Comissão Intergestores Bipartite (CIB), em janeiro de 2021. Em julho deste ano, a unidade hospitalar recebeu autorização do Ministério da Saúde (MS) para realizar o procedimento, que aconteceu nesta quarta-feira.
O diretor técnico do Hospital Cassems de Campo Grande, Marcos Bonilha, relembra que, para ocorrer essa habilitação, a unidade hospitalar teve que cumprir uma série de processos requisitados pelo Ministério da Saúde (MS). “Recebemos do Ministério da Saúde uma quantidade de demandas administrativas, assistenciais e de laboratório e a gente foi cumprindo todos os passos que eles determinaram. Os representantes do MS visitaram a nossa unidade hospitalar para avaliar in loco o cumprimento de todas as exigências para, enfim, estarmos prontos para o transplante, realizado hoje”.
Bonilha salienta ainda que, a ampliação do serviço de transplante, agora com a modalidade de medula óssea, coloca o plano de saúde mais uma vez na vanguarda. “Esse serviço, até então, não era oferecido no nosso estado e este novo desafio representa um avanço importantíssimo para os pacientes que hoje precisam se deslocar até outros estados para a realização. Isso significa mais conforto e mais qualidade no atendimento a quem precisa”.
Segundo o presidente da Cassems, Ricardo Ayache, foram feitas algumas implementações para que os transplantes de medula óssea fossem realizados com segurança aumentando as chances de quem precisa do procedimento. “Entre as melhorias estão a nova modalidade de transplante, o que inclui o funcionamento de um banco de sangue na unidade, que supre a necessidade de componentes sanguíneos de toda a rede Cassems, o setor de internação, onde são acomodados os pacientes, foram feitas melhorias também nos ambulatórios, além da reestruturação da equipe, que agora é multidisciplinar e com isso oferece tratamento humanizado aos pacientes”.
Rede Amo Cassems – Para atender aos beneficiários em tratamento oncológico, a Cassems criou a “Rede Amo”, uma ampla linha de cuidados que oferece um atendimento humanizado e multidisciplinar. Após um concorrido processo em 2020, o plano de saúde teve o credenciamento para realização de transplante de medula óssea, serviço que beneficiará diretamente os servidores do estado e seus familiares, com um grupo especializado de hematologistas e oncologistas na rede própria. O centro de transplante representa um pioneirismo na região Centro-Oeste.