Uma mulher de 34 anos foi finalmente libertada após viver sob cárcere privado por mais de 15 anos, mantida presa pelo marido, um subtenente aposentado do Exército Brasileiro de 53 anos. O caso ocorreu em Anastácio, Mato Grosso do Sul, a 122 km de Campo Grande. Durante todo esse período, a vítima foi submetida a ameaças constantes e violência psicológica, sendo impedida de manter contato com sua família, que reside em Manaus, Amazonas.
O casal, que estava junto há 17 anos, possui dois filhos — um menino de 8 anos e uma menina de 6. Eles viviam no Amazonas até que o militar foi transferido para Aquidauana. Foi nesse momento que a mulher passou a ser isolada, sendo proibida de visitar ou se comunicar com sua família no Norte do país.
Estratégias de Controle
O subtenente utilizava uma série de ameaças para manter o controle sobre a esposa. Ele afirmava possuir uma arma de fogo e insinuava que algo grave aconteceria caso ela tentasse fugir. Além disso, prometia levá-la para visitar a família, mas adiava a viagem como punição sempre que ela não seguia suas ordens. Ele ainda ameaçava afastá-la dos filhos caso tentasse retornar ao Amazonas.
Em um episódio particularmente alarmante, o pai da vítima conseguiu resgatá-la e levá-la para Manaus. No entanto, ela retornou para o marido algum tempo depois, sem os filhos, devido à resistência do homem em permitir que as crianças a acompanhassem. Esse retorno marcou o reinício e a intensificação do ciclo de violência.
Ligação de Socorro e Investigação
A situação mudou quando a mulher conseguiu fazer uma ligação para a mãe durante uma viagem à Bolívia com o marido e os filhos. Ela enviou sua localização e pediu ajuda. Um primo da vítima, também militar, acionou o Programa Mulher Segura (Promuse) da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, que deu início a uma operação de resgate.
Por temer a reação do marido e da polícia, a vítima inicialmente recusou ajuda. Contudo, um mês após a primeira abordagem, sua mãe viajou de Manaus para Anastácio acompanhada de um dos irmãos da mulher. Com o apoio do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), a operação foi finalizada com sucesso.
O Resgate e a Retomada da Liberdade
As equipes do Promuse e do CRAM organizaram o resgate da mulher em um momento estratégico, garantindo que ela pudesse sair da residência com suas malas enquanto o marido não estava presente. O Conselho Tutelar foi acionado para intervir, já que o militar se recusava a entregar as crianças, alegando que a esposa era incapaz de cuidar delas.
Com persistência, as autoridades convenceram o homem a liberar a mulher e os filhos. A vítima foi levada para Manaus junto à sua família, onde recebeu apoio psicológico e iniciou o processo de recuperação.
Medidas Legais
Um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia de Polícia Civil de Anastácio por violência doméstica, e uma medida protetiva foi emitida para garantir a segurança da mulher. Agora, ela está recomeçando sua vida longe do agressor, cercada pelo apoio de seus familiares.
Uma História de Superação
Este caso reforça a importância de programas de proteção à mulher e do papel das autoridades na intervenção em casos de violência doméstica. O resgate simboliza um novo capítulo para a vítima, livre das amarras de anos de abuso e isolamento.