Operação da Polícia Civil contra abigeato deixou dois mortos; familiares alegam execução

Diarionline

A Polícia Civil desencadeou nesta quarta-feira, 18, a operação denominada Marruá 2.0,  contra delitos de furto qualificado, roubo, dano e homicídio qualificado, praticados por organização criminosa na região da Nhecolândia, no Pantanal, especializada na prática de abigeato.

Participaram da operação a Polícia Civil (representada pela 1ª DP de Corumbá, DP de Ladário, DELEAGRO, DP de Aquidauana e DP de Miranda); a Polícia Militar (representada pela Polícia Militar Ambiental e pelo BOPE) e o Grupamento Aéreo da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública).

Divulgação/Polícia Civil

Animais apreendidos tinham sinais aparentes de remarcação. Durante a ação, foram cumpridos mandados de busca e apreensão em três residências em Corumbá e em duas áreas de propriedade rural situada no município.

De acordo com a Polícia Civil, “ao ingressar nos pontos da propriedade rural, equipes da DELEAGRO e do BOPE foram surpreendidas por disparos de arma de fogo efetuados por um dos alvos da investigação e por outro agressor. Prontamente, para preservação da própria integridade e garantia do cumprimento da determinação judicial, os policiais também efetuaram disparos”.  

O primeiro homem foi atingido por um único tiro e o segundo por dois disparos, ambos na região do tórax. Imediatamente, o comando da operação acionou apoio aéreo para prestar socorro aos feridos, mas eles acabaram morrendo no local dos fatos. 

Divulgação/Polícia Civil

Armas e munições apreendidas na operaçãoA Polícia Científica foi acionada e realizou exames periciais. Em poder do primeiro homem foi localizada uma arma de fogo do tipo espingarda adaptada para calibre 22, contendo cinco munições, dentre elas uma deflagrada, e no interior de sua residência foi localizada, ainda, uma carabina PUMA, calibre 38.

Com o segundo homem, foi localizada uma arma de fogo do tipo revólver calibre 38, contendo quatro munições e uma deflagrada, afirmou a Polícia.

Nas áreas da propriedade rural situada na região da Nhecolândia foram encontrados produtos de furto ocorridos recentemente: placas solares, bomba de água e fios de energia elétrica, além de pouco mais de 100 cabeças de gado bovino e equino com sinais aparentes de remarcação e possivelmente produtos de roubos/furtos ocorridos nas fazendas próximas.

Familiares alegam execução

Diferente das informações da Polícia, familiares de Joilce Castello Soares, de 43 anos, e de Vadilson Candelário, de 44 anos, mortos na operação, procuraram o Diário Corumbaense e alegaram que os dois foram executados.

“Eles estavam na mesma propriedade, mas em diferentes locais, cuja posse nossa família obteve judicialmente há cerca de um ano. Segundo o relato da minha cunhada, que estava lá, a polícia chegou e não deu direito a nada. Simplesmente deram um revólver para meu irmão pegar, ele não quis, e em seguida deram um tiro no peito dele e ali mesmo ele morreu. Depois ‘plantaram’ toda a cena de que ele teria reagido e mandaram minha cunhada ‘sumir’ porque iriam matar todos que estavam na fazenda”, disse à reportagem o médico Jair Castello Soares.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Familiares em frente ao IMOL depois da chegada dos corpos“Depois que meu irmão foi morto, eles seguiram pela propriedade, até onde estava o meu cunhado, Vadilson Candelário, marido da minha irmã Cláudia, que também é médica. Ele tinha problema em uma das pernas, estava sentado, mexendo com ferramentas quando foi executado e colocaram uma arma do lado dele para dizer que houve confronto”, afirmou ao mencionar que o nome do cunhado não constava no mandado de busca e apreensão expedido pela Justiça. Já os nomes de Joilce (que já foi denunciado por furto de gado) e de outras pessoas, constavam no documento. 

Os familiares acompanharam a chegada dos corpos no Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), na tarde desta quarta-feira, e protestaram. “A gente clama é por Justiça, porque a Polícia está aqui para nos defender, não para executar ninguém. Eu como médico, estou ali para salvar vidas, independente da pessoa, pode ser um bandido, mas precisa ter os direitos dele. Queremos que os fatos sejam investigados com rigor”, concluiu.

O delegado Regional de Polícia Civil de Corumbá, Fabrício Dias dos Santos, disse a este Diário que a ação foi legítima e baseada em uma decisão judicial que autorizou a busca e apreensão na propriedade rural. “Duas equipes foram surpreendidas pelos dois homens mortos, mas a alegação da família, vai ser devidamente apurada. O nosso compromisso é com a legalidade e com a apuração da verdade”, finalizou.