Maristela Brunetto – Campo Grande News em 14 de Julho de 2023
Uma parte remota do Pantanal sul-mato-grossense, já onde o Estado se aproxima da divisa com o vizinho Mato Grosso, a Serra do Amolar parece uma pintura, um paraíso. Uma morraria que se estende e se destaca no meio do entorno plano, a exuberância do rio Paraguai, que vai serpenteando, o verde da vegetação, as cores dos ipês e dos bichos. É um destino ainda pouco explorado, mas se depender da Fundação de Turismo, ele deve ganhar mais espaço na rota de viajantes.
Tanto pra se ver, mas ainda um roteiro distante da maioria. Os cruzeiros nos barcos-hotéis duram em média 5 dias e custam cerca de R$ 5 mil em acomodações compartilhadas. No caso do Amolar Experience, parte da receita fica para projetos locais de proteção e preservação.
O Governo Estadual lançou um edital para selecionar entidade que faça iniciativas de divulgação, levando profissionais do turismo, jornalistas e influenciadores, buscando criar mais uma rota de passeio, além do turismo de pesca e dos passeios já consolidados de Bonito e região. Atualmente, há poucas pessoas que conseguem chegar à Serra do Amolar, por ser inóspita e com estrutura limitada. Mas a aposta é que o aumento do interesse pelo local possa permitir a ampliação da condição de hospedagem e até mesmo acesso.
Para se chegar ao Pantanal da Serra, é preciso seguir por cerca de seis horas de embarcação a partir de Corumbá, navegando contra a correnteza do rio, que desce rumo ao país que lhe dá o nome. No percurso, o turista verá bichos, passará por fazendas, unidades de conservação, verá ribeirinhos, vai ver iniciativas de preservação e pesquisa.
O turismo de experiência, como descreve o presidente do Instituto do Homem Pantaneiro, Ângelo Rabelo, deve ganhar espaço na região, que se consolidou com as viagens de pesca. Tanto que não há oferta de passeios o ano todo nos barcos-hoteis. As embarcações ficam reservadas ao turismo de pesca e só oferecem cruzeiros de contemplação da natureza quando é época de piracema e a pesca fica proibida, de novembro a fevereiro, exatamente na época da cheia dos rios, quando o ecossistema fica especialmente bonito.
Fora essa opção, existe a Amolar Experience, uma parceria do Instituto com uma empresa paulista, Pure Brasil, que forma grupos a cada época. Para setembro, devem ocorrer duas viagens, uma delas já estava com o grupo fechado, e outra está sendo planejada para outubro. Isso porque se tratam de turmas pequenas, que precisam se hospedar em duas fazendas antigas, Acorizal e Novos Dourados, com 45 minutos de distância de barco, que abrigam projetos de preservação e têm poucas acomodações.
Arquivo pessoal
Rabelo, à esquerda, com turistas estrangeiros em visita a ribeirinhosO diretor do projeto, Giancarlo Valias, conta que a estruturação do passeio começou em 2020, com grupos partindo em agosto de 2021. Conforme ele, o começo foi exatamente levando grupos de divulgação, o que repercutiu muito, comenta. Valias menciona o interesse internacional, mas também muitos brasileiros, que gostam de contemplar a natureza e interessados em “novidades”.
Recentemente, Rabelo viajou com um grupo de sul-africanos. Levou-os para conhecer os índios guatós, a produção de artesanato local, a comunidade Barra do São Lourenço. O encantamento dos visitantes e a repercussão motivam Rabelo. Ele acredita que a maior visibilidade e interesse pelo destino podem incentivar pantaneiros da região a criar acomodações para receber turistas e mesmo oferecer experiências para quem visita o local, no percurso de barco. Muitos já estão de olho nesse movimento, segundo ele. Um movimento que vai se estruturando para poder ampliar o acesso ao roteiro.
Defensor do ecossistema de longa data, Rabelo define como um turismo diferenciado, com “alta produção de natureza”. O turista que visita pode ver onças, ariranhas e mais uma infinidade de espécies da fauna.
Já Valias conta que quem participa do Amolar Exeprience pode fazer trilhas, subir na morraria e ter uma perspectiva da exuberância da natureza a 400 metros de altura.
Parada em Corumbá
Viabilizar a Serra do Amolar como um roteiro deve ter como pré-requisito uma parada em Corumbá, para conhecer a história local e estimular o turismo. Cidade de 244 anos, estratégica na época em que as viagens se davam pelo rio Paraguai, Corumbá tem prédios antigos e uma rica história. Passaram desbravadores indo e vindo do Norte. Mato Grosso, em especial Cuiabá e Diamantino, tiveram período de destaque na época colonial com a descoberta do ouro e diamantes.
Além de conhecer mais dessa história, também é possível ver de perto da vida dos “índios canoeiros”, os guató. Como conta Luis Alfredo Marques Magalhães em seu livro Rio Paraguay, os antepassados eram avessos aos não indígenas, chegavam a guerrear com as caravanas que passavam embarcadas pelo rio. Depois, passaram a manter relações amigáveis. A escolha pela Serra do Amolar para se fixar permitiu considerável isolamento.
Conforme o autor, passaram a surgir casas de alvenaria e até energia solar, mas ainda se vê cabanas de chão batido e cobertura de folhas de bacuri, a mesma palha usada para as cestarias que os guató confeccionam.
Quanto à iniciativa do Governo, Diego Garcia Santos, diretor executivo da Fundação de Turismo, disse que o propósito é incentivar a divulgação do que houver de valor para a atividade, incluindo a cultura, o artesanato, e que ajude a promover o destino.
Divulgação/IHP
Serra do Amolar e a morraria que se estende em meio à paisagem plana